Filme mostra características da doença que afeta 70 milhões de pessoas no mundo
Paula (à esquerda) e a filha Júlia Balducci ficaram satisfeitas com o resultado da filmagem

Vida — Como foi para você fazer parte deste trabalho?
Júlia — Foi maravilhoso! Tive a oportunidade de
aprender a me relacionar com os membros da equipe, me expor a situações
novas e aprender sobre técnicas específicas de filmagem, roteiro e
animação, além das sutilezas da profissão. Foi muito rica a experiência
como assistente de direção e atriz.
Vida — Você aprendeu mais sobre você mesma fazendo este filme?
Júlia — Pude entrar em contato com outros casos de
autismo e conhecer suas famílias. Tive contato com pessoas que passam
por algumas coisas pelas quais eu passo também e isso foi muito bom para
mim. Fiquei feliz em ver que esta experiência é o que realmente quero
para a minha profissão...trabalhar com cinema.
Vida — Qual o principal mito que as pessoas têm sobre o autismo?
Júlia — Que são pessoas que ficam em suas casas, que
não se relacionam com o mundo, que não têm sentimentos, que não
entendem piadas e são incapazes de entrar para o mercado de trabalho.
Para mim este filme é a oportunidade de demonstrar exatamente o
contrário. Assim como eu, uma pessoa que tem a Síndrome de Asperger (uma
das formas de autismo) pode estar no mercado de trabalho, sair de casa,
conviver e participar...interagindo com as pessoas, gostando delas e
amando o que faz, tais como: Steven Spielberg, Stanley Kulbrick e Alfred
Hitchock.
Vida — Você enfrenta algum tipo de preconceito por causa da desinformação das pessoas?
Júlia — Muitos. As pessoas tendem a ignorar o que eu
falo, o que eu penso, por não saberem lidar comigo. Elas não entendem
que posso vir a gostar delas, querer a presença delas, mas não
necessariamente irei querer beijá-las e abraçá-las.
Vida — Como o documentário ajuda a compreender os comportamentos de um autista?
Júlia — Conseguimos transmitir com esse
documentário, exatamente a maneira com que o médico Marcos Tomanik
Mercadante (in memorian) - compreendia o funcionamento do cérebro
autista. Ele pensava que cada indivíduo com autismo é diferente um do
outro, com comportamentos diferentes entre si. Por isso é importante
planejar uma intervenção específica para cada um. A família é muito
importante nesse processo e sem dúvida, ter tido um médico como ele e
uma família como a minha, sempre por perto, acreditando e investindo o
seu tempo em mim foi, é e sempre será muito importante para o meu
desenvolvimento.